É em Campinas, no interior de São Paulo, a 90km da capital paulistana, que boa parte do trabalho da Rabanit Nadia Levaton Stulman e seu marido, o Rabino Nachman se concentra. Com foco voltado para a comunidade local, Nadia é uma das shadchaniot do Zivug. “É necessário bastante dedicação para conversar e atender os jovens”, diz.
Zivug – Sra Nadia, como é o seu trabalho com a comunidade judaica de Campinas junto com o seu marido, o Rabino Nachman? Há quantos anos vocês atuam na cidade?
Nadia Stulman – Trabalhamos em Campinas, há mais de 18 anos, com a comunidade local. Vemos a grande importância dela, pois como a cidade oferece muitas oportunidades, a coletividade é numerosa em relação a outros municípios do interior. Apesar de ficar a 90 kms de São Paulo, há uma carência de judaísmo e aqui entra o nosso trabalho: o de aproximar ao máximo os judeus do judaísmo.
Damos apoio para nascimentos, bar e bat mitzvá, aulas para jovens da Unicamp e, em geral, assistência aos idosos. Fazemos em todos os shabatot um encontro em nossa sede e também comemoramos as festas judaicas.
O que acontece muito, principalmente com os jovens é que eles que começam a se aproximar mais da religião, fazem teshuvá, ficam religiosos, mas acabam indo morar nos grandes centros judaicos, e diminuem o número de pessoas da comunidade local, onde estavam inicialmente. Mas, logo chegam outros e recomeçamos de novo.
Recentemente, em suas redes sociais, a sra postou que conseguiu realizar, B’H, mais um casamento dentro do projeto Zivug. Poderia falar sobre isso, por favor?
Nesse trabalho, estamos sempre prestando atenção nas pessoas, para podermos apresentar uns aos outros. É necessário ter muita dedicação para lidar com os jovens, saber com detalhes como é cada um, tomar cuidado com o que vai falar para cada um, também. Precisamos tratá-los como filhos e sermos cuidadosos. Tem vários shadchanim trabalhando e, Baruch Hashem, há diversos casais sendo formados por causa deste projeto.
Conte um pouco sobre o seu tempo dedicado ao Zivug
Quando tem um casal que combina que vai se conhecer, fico praticamente o dia inteiro em função deles. De dia e à noite, não tem hora para acabar. Às vezes, levo bronca dos filhos, do marido, mas esse é o nosso trabalho.
Isso quando não há dois ou três casais novos saindo, ao mesmo tempo, aí o bicho pega: minha família não vai me ver por algumas semanas, somente no Shabat! Eles até já chegaram a esconder o meu celular (risos). É preciso, realmente, muita dedicação para que possamos ajudar os casais.
Como funcionam as apresentações e a questão da privacidade dos inscritos?
Os candidatos não têm acesso ao cadastro um dos outros, somente os shadchanim têm.
Nós ligamos para cada pessoa que achamos que combina para fazemos a apresentação. Falamos com o Rabino Benzecry para colocar um sinal de ocupado e somente o shadchan que apresentou sabe com quem cada um está saindo.
Os outros shadchanim só ficam sabendo que a pessoa está saindo, mas não sabem com quem, e assim preservamos a discrição.
Quantas apresentações a sra acredita ter realizado, junto com o seu marido, para a formação de novos casais? E quantos casamentos saíram destas apresentações?
Na verdade, não fazemos tantas apresentações, porém, a maioria que fizemos, deu certo!
Qual a importância do Zivug sobre tentar ajudar a resolver o problema de assimilação?
Sempre ouvimos nos contatos que tivemos com os jovens, reclamando que não há muitos parceiros (as) na comunidade judaica, em geral, e sempre falávamos para darem chance pois sim, havia.
Diversas vezes, em pequenas comunidades, reclamavam que o círculo judaico que conheciam, eram de amigos ou primos (que na verdade não eram primos, eram só muito próximos) e não queriam algo mais sério.
E muitos acabavam se casando com pessoas de fora da comunidade. O projeto Zivug proporciona uma integração da comunidade judaica do Brasil, dando chance, assim, para que outras pessoas se conheçam, até mesmo de outros estados. Isto está ajudando bastante na questão da assimilação e ajudando a formar vários casais que, se não fosse assim, não teriam se conhecido.
Mas mais do que os jovens, estamos ajudando pessoas de várias idades. Temos inscritos até jovens de 80 anos, recentemente tive a felicidade de participar de um shiduch com minha colega, Sarinha Treiguer, de um casal cujas idades eram de 62 e 58 anos.
A tentativa de formação de casais que vocês fazem, envolvem apenas interessados de Campinas e São Paulo ou abrange também outros estados e cidades?
Envolve o Brasil inteiro, outras cidades e outros estados.
Existe alguma história peculiar destas apresentações?
Quando estava olhando os perfis dos candidatos, de repente, vi um abaixo do outro, dois jovens que haviam acabado de entrar na lista, e, olhando a foto, e os detalhes, vi que tinham tudo a ver um com outro!
Liguei para cada um e falei com eles. Percebi que a sua fala tinha a mesma sintonia, tinham respostas idênticas, as mesmas frases: nem mesmo as vírgulas mudavam!
Fiquei sabendo que o rapaz era convertido, mas não sabia que a moça também era de família convertida, achei super bacana, teve mais mais ainda!
Fiz o match, e eles se encontraram pela primeira vez em um domingo à tarde.
Esperei para que eles entrassem em contato no final do dia para dizerem o que acharam um do outro, qual a impressão que tiveram, mas não recebi nada, o que me deixou preocupada: o que poderia ter acontecido com eles?
A resposta veio tarde, de madrugada, após 9 horas depois que tinha sido marcado para o encontro: os dois estavam muito contentes e já decididos e sem dúvida de que já haviam encontrado seu Shiduch!
Aconselhei que eles fossem com calma, que precisavam sair mais vezes para tomarem uma decisão. Então falaram que tudo bem. Mas, nessas conversas que ainda tivemos, os diálogos continuavam sendo os mesmos, mesmas frases e vírgulas, sempre em sintonia, era realmente incrível!
Então marcamos na terça-feira da mesma semana, dois dias depois do primeiro encontro, e novamente eles ficaram conversando por muitas horas e na volta deste segundo encontro, eles tinham certeza do que queriam.
Marcamos o Lechaim na quinta-feira (era lag baomer), pois ele havia pedido ela em casamento à tarde. Dois meses depois, eles já estavam casados. Foi, realmente, uma história incrível!
Recentemente sua filha foi entrevistada na televisão por um programa judaico carioca. Como você enxerga esse envolvimento familiar em ajudar as pessoas a se casarem?
Desde pequenos, ensinamos para nossos filhos, que devemos fazer ações de bondade, e gostamos que todos se envolvam na nossa shelichut, fazendo uma moradia pra Hashem aqui embaixo. Quanto mais vejo minha família envolvida nessas ações, mais me influencia para fazer o bem. Em educação, aprendemos mais do que ensinamos, o principal são nossos filhos vendo o que fazemos, e por isso levamos todos conosco.