O casamento judaico é uma instituição sagrada, em que o amor entre marido e mulher é puro e santificado. E essa santidade do relacionamento matrimonial e o fortalecimento do lar e da família são adquiridas por meio do cumprimento das leis de Taharat Hamishpachá, as leis concernentes àpureza familiar, que compreendem os preparativos e as normas prescritos pela lei judaica para imersão ritual da mulher na micvê.
De forma resumida, conforme as leis de pureza familiar, as relações íntimas entre o casal são interrompidas a partir do início do fluxo menstrual até o final da contagem de mais sete dias, normalmente chamados de “sete dias limpos”, perfazendo um período de separação de, no mínimo, 12 dias.
Ao final dessa contagem, a mulher realiza a imersão na micvê e as relações conjugais são retomadas.
Traduzindo literalmente, micvê significa “junção de águas”. À primeira vista, parece ser apenas uma piscina que armazena água natural, mas sua concepção envolve detalhes minuciosos da lei judaica para que receba o status de kasher para seu uso prescrito.
Casamento revigorado
As leis de Taharat Hamishpachá revigoram o casamento mensalmente. A expectativa por manifestações físicas se concretiza no dia da imersão da mulher, que se assemelha à experiência da lua de mel original.
A pureza familiar proporciona aos cônjuges uma estrutura divinamente ordenada, que lhes mostra como devem se relacionar um com o outro.
Durante o período em que o casal se abstém de contato físico, ele deve se relacionar de maneiras não físicas, dialogando e compartilhando. Marido e mulher desenvolvem formas significativas de expressar amor, afeição e apreço, transcendendo o físico.
E sobre esse fundamento sólido, o casal poderá edificar uma estrutura familiar equilibrada e feliz. Esse é um dos propósitos principais pelo qual D-us, em Sua bendita sabedoria, estabeleceu esses preceitos.
Filhos puros e santos
A observância das leis de pureza familiar também assegura que os filhos nasçam em níveis mais elevados de pureza e santidade, que lhes facilitarão resistir às tentações e evitar as armadilhas do ambiente quando crescerem.
Também é um fator fundamental na preservação do Shalom Bait, a paz e a harmonia no lar.
Essa é a grande tarefa e missão que D-us concedeu às mulheres judias – observar e disseminar o cumprimento de Taharat Hamishpachá, assim como das outras instituições vitais da vida familiar judaica.
Pois além de serem as mitsvot fundamentais e a pedra base da santidade da vida familiar judaica, bem como estarem relacionadas ao bem-estar dos filhos tanto física quanto espiritualmente, essas leis permeiam e se expandem a todas as gerações judaicas até a eternidade.
Ao marido, é exigido encorajar e facilitar essa observância mútua, não criando nenhum tipo de dificuldade. Mas a principal responsabilidade – e mérito – é da mulher.
O costume da micvê atravessa gerações
As leis de pureza familiar são observadas há milênios por nosso povo, desde as nossas matriarcas, em todas as circunstâncias.
Houve épocas em que, no inverno, as mulheres quebravam até gelo para imergir no mar, e outras situações em que as matriarcas viajavam dias e noites até uma cidade onde havia micvê.
As leis de pureza familiar são muito queridas ao Todo Poderoso (Vaycrá Rabá, capítulo 19) e precisam ser estudadas em profundidade com entendidos no assunto.
Mesmo que a sua observância seja necessária mensalmente, às vezes, o seu conhecimento é insuficiente. Seja porque um cônjuge se apoia no conhecimento do outro, ou simplesmente por desinformação.
O correto seria estudar as leis de Taharat Hamishpachá todo mês, ou pelo menos, uma vez por ano, em detalhes, a fim de não infringir graves proibições e para saber quais questões devem ser consideradas.
Manual para uma vida conjugal feliz
Para o casal que não está acostumado a seguir a tradição judaica, essa mitsvá pode parecer difícil e cheia de restrições. Mas, certamente, quem começa a conhecê-la e praticá-la, verá que é um manual de como fazer um casamento ser feliz.
Nossa vida familiar deve abraçar a mensagem Divina. Nesse sentido, marido e mulher precisam dedicar sua vida conjugal aos princípios de nossa Torá e prestar atenção especial às leis de pureza familiar.
Tendo D-us como parceiro nesse sagrado projeto, todo casamento tem o potencial pleno e a segurança quase absoluta de conseguir êxito e satisfação completos e duradouros.
O casamento misto é um dos temas mais discutidos da vida judaica. Afinal, por que os judeus devem se casar entre si? Em nosso mundo moderno e multicultural, por que inabilitar alguém como potencial parceiro (a) de casamento apenas porque ele ou ela não nasceu de um útero judaico ou não passou por um processo de conversão adequado?
Por um lado, é fato que muitos pais, em geral, apesar de não serem observantes dos preceitos religiosos, sentem que, quando seu (sua) filho (a) se casa com uma pessoa não-judia, ele ou ela está rompendo a cadeia milenar de continuidade judaica e não querem que isso aconteça.
Por outro lado, os mesmos pais se sentem, às vezes, pouco à vontade de se oporem abertamente ao casamento misto por causa de sua aparente conotação discriminatória.
Para analisarmos mais a fundo esse assunto, precisamos primeiro entender qual é o fundamento para a objeção a casamentos mistos.
A fonte primária sobre a qual se baseia a proibição de um judeu casar com um não-judeu encontra-se na Torá (Deut. 7:3): “Não casarás com eles (com os não-judeus, sobre quem a Torá fala nos versículos anteriores), não darás tua filha ao filho deles e não tomarás a filha deles para teu filho…”.
Ou seja, o casamento misto é uma clara contradição à vontade declarada de D-us na Torá.
O motivo para essa proibição está explícito no versículo a seguir: “Porque ele afastará teu filho de Mim e eles servirão a deuses estranhos…”.
A implicação direta é que filhos desse tipo de união serão afastados dos preceitos judaicos, que representam a vontade mais profunda de D´us.
Essa também é a fonte bíblica para a lei de descendência materna. Como o versículo declara “pois ele (isto é, um pai não-judeu) fará teu filho se afastar…”.
Filho nascido de uma mãe judia é judeu
Isso quer dizer que um filho nascido de uma mãe judia é judeu, ao passo que se um homem judeu se casa com uma mulher não-judia, o filho não é judeu.
Assim, no caso de uma mãe não-judia, o filho não é judeu, e uma linhagem judaica ininterrupta até então foi rompida.
Se um homem não-judeu se casa com uma judia, os filhos são judeus. No entanto, a Torá proíbe explicitamente esse tipo de união, pois “ele desviará teu filho”.
Isso deixa claro que a proibição de casamentos mistos não está relacionada à discriminação racial. Estamos falando sobre uma ordem Divina objetiva, que é acompanhada por uma explicação.
Compatibilidade de almas
Há almas que são compatíveis para casamento e há almas que não são. Além do caso de casamentos mistos, a Torá enumera uma lista de “casamentos” ilícitos.
Por exemplo, o “casamento” entre irmãos biológicos ou entre um homem e uma mulher que ainda esteja casada legalmente com outro homem. Situações similares a estas constituem algumas das violações de incesto ou adultério. Nesses casos, jamais pode haver qualquer casamento, embora seja fisicamente possível coabitar e procriar.
Da mesma forma, não somente é proibido para um judeu se casar com uma não-judia, é impossível para um judeu desposar religiosamente uma não-judia. É possível para eles viverem juntos, coabitarem, até mesmo, procriarem. Mas não há possibilidade de ocorrer o casamento conforme a Torá.
Isso porque o Talmud e a Cabalá nos ensinam que o casamento não é apenas uma união entre dois indivíduos. É a reunião de duas metades compatíveis.
Um casal compartilha a mesma alma que, no nascimento, se divide em duas metades incompletas. Com o casamento, elas se reúnem e se tornam, mais uma vez, completas.
Com base nisso, explica-se porque não se considera o não-judeu um potencial parceiro de casamento. Não é devido a um defeito que ele ou ela tenha. Deve-se simplesmente ao conceito bíblico do casamento, ao qual todo judeu sente-se obrigado a aderir. Tal qual uma irmã de sangue que, apesar de saída do mesmo ventre, não estaria apta para ser sua esposa.
A essência de cada um
É possível que um rapaz judeu encontre compatibilidade com uma moça não-judia (e vice-versa) e deseje formar uma família com ela. Essa aparente compatibilidade somente é possível quando nenhum deles manifesta sua essência.
Desde que o judeu não se preocupe com o fato de ele ou ela ser judeu e o não-judeu não se preocupe com sua origem pessoal e sua essência, tudo parece perfeito.
O que acontecerá no dia em que qualquer um deles “acordar” e decidir preocupar-se com aquilo que realmente é? De repente, surge a incompatibilidade!
Em outras palavras, enquanto nenhum dos dois se preocupa com sua essência, eles podem sentir-se compatíveis com alguém que é essencialmente oposto. No minuto em que um deles descobre sua verdadeira identidade, o relacionamento transforma-se em questionamento.
O Rei Salomão declara: “Estou dormindo, mas meu coração está desperto”. Um judeu pode estar dormindo espiritualmente. No entanto, no íntimo, seu coração judaico está sempre alerta e, a certa altura, será despertado.
Após anos dentro de um casamento, em que grande parte das ações se transformam em rotina, a alma e o coração judaicos podem ser despertados para procurar o significado mais profundo da vida. Pode haver uma busca pela espiritualidade e redescobrimento das próprias raízes.
O lado prático do casamento
Vamos considerar alguns dos problemas práticos que surgem nos casamentos mistos. Analise as seguintes questões com atenção: quem celebrará a cerimônia? Esta será em uma igreja ou sinagoga? Em que tipo de bairro o casal irá morar e criar os filhos? Que símbolos religiosos haverá na casa? Haverá uma mezuzá à porta ou outro símbolo?
O casal frequentará quais celebrações? No futuro, haverá pressão para que o cônjuge se converta?
O cônjuge judeu vai querer ser enterrado em cemitério judaico? O casal desejará ser enterrado junto? Que práticas de luto eles desejarão que sejam observadas em sua memória?
E quando os filhos nascerem? Os problemas mais conhecidos dos casamentos mistos dizem respeito a eles.
Em muitos casos, o cônjuge não judeu pode ser convencido a permitir que um bebê do sexo masculino seja circuncidado. Haverá batizado? Que tipo de escola as crianças frequentarão? Elas serão educadas em uma religião, nas duas ou em nenhuma? Os filhos saberão ler hebraico?
A família comemorará Chanucá e/ou Natal? E quanto às outras festas? Haverá bar / bat mitsvá? E se as crianças começarem a gostar mais de uma tradição do que da outra?
Por fim, como será a reação do casal se os sentimentos de um dos cônjuges mudar com relação a essas questões fundamentais, como acontece de forma costumeira?
Todas essas possíveis dúvidas refletem problemas comuns nos casamentos mistos. São questões que não parecem problemáticas até “explodirem” no casamento mais tarde.
Um edifício duradouro
Um casamento judaico é chamado de Binyan Adei Ad – um edifício duradouro. Para que isso ocorra, tudo deve estar conectado com as instruções da Torá, que é a fonte da vida, bem como um verdadeiro manual que ensina como devemos viver.
É claro que o amor é essencial no casamento. Uma união sem amor é estéril e instável. Porém, muito mais é necessário.
Como escreveu o rabino Jacob J. Hecht, de abençoada memória, “o matrimônio representa uma ligação, uma busca de continuidade social e segurança familiar, uma preocupação com o passado e esperança para o futuro. Essa ligação deve firmar-se não só no amor, mas também em propósitos comuns e objetivos ideais compartilhados. O casamento entre duas pessoas educadas em fés diferentes priva essa ligação de grande parte de suas afinidades”.
É como pensar na construção de uma casa. Sem uma fundação sólida, todos os esforços colocados nas paredes, no teto e na decoração serão inúteis. Isso é ainda mais verdadeiro sobre a estrutura do casamento: se os alicerces são instáveis, acaba ocorrendo um desmoronamento.
Por isso, um casamento judaico deve, antes de mais nada, ser baseado na Torá: nossa fundação sólida!
O Rabino Pessach Kauffman desenvolve importante trabalho na comunidade judaica do Bom Retiro e de São Paulo. É o rabino responsável pela sinagoga Ahavat Raim, uma das mais antigas da cidade. Também participa do Zivug, atuando ao lado da esposa como shadchan.
Zivug – Rabino, conte sobre como é dirigir uma sinagoga no Bom Retiro, bairro muito tradicional da comunidade judaica? Quais são os seus principais desafios?
Rabino Pessach Kauffman – É uma grande honra dirigir uma das sinagogas mais antigas de São Paulo. Centenas de famílias passaram por aqui e já estamos na 4ª geração das famílias dos fundadores frequentando a nossa sinagoga e outros saudosos, mas indo a sinagogas de outros bairros.
A Ahavat Reim tem um papel muito importante na renovação do Bom Retiro, nos últimos 14 anos. Trouxemos de volta o espírito jovem, a alegria, criamos uma comunidade muito unida e alegre.
Fomos uma das entidades responsáveis pelo projeto do Eruv do bairro, mas pela nossa história e importância na vida de tantas pessoas espalhadas pela cidade, nosso trabalho não se prende ao Bom Retiro apenas.
Realizamos a maior festa de chanuká de São Paulo, em 2017, em parceria com todas as entidades Chabad, levando shows musicais e food trucks para a Avenida Paulista. Temos projetos assistenciais, estivemos envolvidos no início do projeto responsável pela colocação de centenas de matzevot em São Paulo, além da construção de um cemitério judaico em Rolândia, no Paraná.
Distribuímos kits desinfecção para Covid-19, doados pela Farma Conde, para todas as entidades judaicas de São Paulo e agora fazemos parte do Zivug, projeto muito importante, com a soma de outras entidades e ativistas, sempre respeitando o trabalho de cada um, com a missão de levar judaísmo para todos, em qualquer lugar! Este é nosso espírito!
Sua participação recente num programa televisivo (Shark Tank) causou bastante repercussão, tanto dentro quanto fora da comunidade judaica. Qual a importância e quais valores o sr conseguiu agregar desta sua participação para o seu trabalho comunitário?
Quando um judeu ortodoxo trajando sua kipá e tsitsit, ou seja, com todo aquele estereótipo judaico, vai a um programa de televisão, é uma responsabilidade enorme. Entendo que de certa maneira estou representando a comunidade toda.
Minha missão era mostrar nossa idoneidade, inteligência, respeito e vocação para fazermos desse mundo um lugar melhor.
Com meu aplicativo fitness (Fit Anywhere), levo saúde e bem-estar para milhares de pessoas, onde quer que elas estejam, com preço justo, inovação, facilidade, respeito e resolvendo o problema da maioria das pessoas. A repercussão tem sido incrível e tenho muito orgulho do que estamos construindo, graças a D´us.
Qual a importância do Zivug? Qual é a sua opinião sobre este projeto?
Os aplicativos de encontro e paquera que existem por aí têm feito com que as pessoas saibam cada vez menos como conquistar uma pessoa. Tudo fica mais fácil, mas também mais superficial. A comunidade judaica tem se espalhado em diversos bairros e, às vezes, pode ficar difícil conhecer alguém.
Com a união de entidades e ativistas podemos construir uma ponte e conectar pessoas, facilitando a busca por sua alma gêmea, mantendo nosso povo unido conforme a Torá ordena. Acho extremamente importante o Zivug e fico muito feliz em poder fazer parte da equipe.
Quais dicas o senhor pode dar aos que estão procurando se casar?
1 – Nunca dê um passo acreditando que a pessoa vai mudar durante o relacionamento. Pode até acontecer, mas você tem que gostar da pessoa como ela é hoje!
2 – “Química” física podemos adquirir com o relacionamento. Tudo melhora quando temos sintonia espiritual e admiração pela pessoa que nos casamos. O inverso não funciona da mesma maneira! Cuidado com isso!
3 – O casamento é a união das duas almas. Portanto, se entregue, dê o seu melhor, não deixe o orgulho tomar conta de si, saiba pedir desculpas e saiba perdoar. Este conselho é básico para um relacionamento duradouro.
4 – Seja SEMPRE honesto. Não minta idade, não esconda nada. Descobrir algo depois é muito pior e poderá ser carregado para sempre.
5 – Aprenda a conversar, não tenha medo de expor seus sentimentos, saiba ser empático e se declare com frequência. Receber um “Eu te amo” pode fazer muito mais diferença do que você imagina.
6 – Crie um lar JUDAICO! Com respeito, estudo de torá, cumprimento de mitzvot, caridoso, e cumpram sempre as leis de pureza familiar! A benção da casa, a parnassá e a criação dos filhos é totalmente impactada por isso.
7 – Dê flores, abra sempre a porta para a sua esposa, pague a conta, escreva cartas, crie momentos. Algumas coisas nunca saem de moda!
Quando é o momento certo para ir atrás de um/a pretendente?
Acredito que cada um tem o seu momento e todos nós sabemos o momento certo. Devemos lembrar que todos nós somos enviados ao mundo, com nossa alma gêmea, e que não podemos perder tempo ou desperdiçar oportunidades, preocupados com quanto dinheiro temos na conta, onde vamos morar ou com qualquer outra preocupação material. Casar é uma benção incrível e traz consigo outras infinitas bençãos! “Enjoy the moment”, confie em D´us e seja muito feliz!
Na sua opinião, quais as barreiras mais comuns que dificultam as pessoas a começarem ou a desenvolveram um relacionamento?
– Muita tecnologia e pouca conversa;
– Focar no físico ou na intimidade esquecendo do espiritual;
– Apego ao materialismo;
– Buscar a pessoa nos lugares errados;
– Autossabotagem;
– Medo ou falta de fé.
Teria alguma história curiosa sobre apresentação de casais, que deram certo ou não.
Acredito que adquirimos ou nascemos com o dom de apresentar pessoas e somos abençoados por D´us quando acertamos.
Sou uma pessoa de poucos shiduchim, mas de muita assertividade. Apresentei amigos próximos, aconselhei vários outros que estavam com um relacionamento em andamento e que acabaram terminando em casamento e costumo viver muito perto, quando estou envolvido em alguma apresentação.
A história mais curiosa é que, B’H, 90% dos casos continuam muito próximos de nós, como parte da família. Chega a arrepiar escrever sobre isso!
Quais são os pontos principais que devem nortear um casamento judaico, especialmente numa era tão tecnológica e com tanta oferta de novidades?
– Espiritualidade;
– Amizade e companheirismo;
– Tenha tempo para o relacionamento / cônjuge;
– Não seja escravo das tecnologias e das redes sociais;
– Seja honesto, tenha foco no relacionamento;
– Pureza familiar, Torá, tzedaká. Faça com que D´us sinta-se à vontade em seu lar, abençoando-o.
Para o judaísmo, o amor é muito mais que um encontro de corpos e mentes: é um verdadeiro encontro de almas. No período do nascimento ao casamento, as duas partes encontram-se em casas separadas, e muitas vezes em sociedades e países diferentes. No momento certo, elas se encontram. Debaixo da chupá, as duas metades fundem-se em uma alma só. O casamento não é uma sociedade entre duas pessoas. É a união de almas de forma literal.
Qual é a sua motivação no envolvimento em tentar ajudar as pessoas a se casarem?
O casamento judaico é um compromisso com a continuidade da nossa nação. Além disso, pais judeus criando filhos judeus, com valores judaicos, é nossa maneira de fazer desse mundo um lugar melhor!
Deixe por favor alguma mensagem aos usuários do nosso site
Obrigado pela confiança em nós! Você merece encontrar alguém, ser muito feliz e conte conosco!
Eva Zellerkraut, também conhecida como Morá Eva, trabalha como psicóloga na área de educação há mais de 4 décadas.
Por seu envolvimento neste segmento, foi um caminho natural ajudar casais a se formarem, justamente “por estar próxima de rapazes e moças de diversas partes do Brasil”.
A Morá é uma das shadchaniot do Zivug.
Zivug – Morá Eva, conte um pouco sobre a sua atuação na área de educação.
Eva Zellerkraut – Trabalho com educação há mais de 40 anos, como psicóloga em escolas e instituições judaicas de adolescentes como Midrashá e Yeshivá Guevoha, com religiosos e pessoas que estão se aproximando do judaísmo.
Como começou o seu envolvimento nos shiduchim (apresentação de casais)? Fale um pouco sobre a sua atuação e motivação neste trabalho?
Por estar próxima de rapazes e moças de diversas partes do Brasil, alguns longe da família, e também já com idade de formarem sua própria família, comecei a tentar unir alguns casais e isso deu muito certo. Esse fato acabou me animando e fazendo com que esses alunos me procurassem e pedissem minha ajuda, por conhecê-los bem.
Quais são os principais desafios que os nossos jovens têm que enfrentar?
Nossos jovens lidam com vários desafios atualmente. A miscigenação, muito grande nas faculdades e no mercado de trabalho onde atuam; a falta de locais para que consigam maior interação com integrantes da comunidade judaica. Fora que poucos jovens têm a oportunidade de frequentar sinagogas ou clubes e acabam interagindo com um mundo laico, perdendo assim a chance de encontrar um shiduch que seja interessante.
Como interagir em um mundo cada vez mais high-tech? Quais são os benefícios e malefícios da tecnologia?
Outro grande desafio dos jovens e um malefício é o isolamento de alguns deles. Uma boa parte acaba ficando muito em suas redes sociais, TVs, séries, etc, e não procuram se socializar com pessoas da comunidade, nos poucos eventos existentes. Devemos tentar aproveitar essas redes sociais para fazer com que conheçam prováveis parceiros ou amigos, no mínimo.
De que forma o background familiar influencia na formação da pessoa?
Ele é muito importante para formar um lar judaico e que ambos venham de famílias judias e que queiram criar seus filhos pelos preceitos da religião (religiosas ou conservadores).
Quais dicas a sra. pode passar aos que estão procurando o seu zivug (parceiro/a ideal)?
Qualquer jovem que esteja procurando seu Zivug precisa se dar uma chance, tentar conhecer a pessoa que lhe indicam, conversar, ver se possuem pontos em comum, o que pensam para o futuro, o que fazem, como gostariam de ter uma família, se têm aquele sentimento de estarem bem juntos, se têm assuntos para conversar…e tentar se falar ao menos 2 ou 3 vezes.
Na sua opinião, o que é mais importante achar na outra pessoa para defini-la como seu zivug?
Nada é definitivo…E, no máximo, se não for o esperado, terá conhecido alguém e será um novo amigo. Sei de gente que acabou se apresentando para um amigo e deu certo!
O importante é querer estar com aquela pessoa, desejar ligar e falar frequentemente.
Que Hashem ajude que todos possam achar seu Zivug brevemente!
O Rabino Nochum Zajac atua há vários anos na comunidade judaica de São Paulo, e na função de shadchan afirma ter apresentado mais de dez casais que se conheceram por seu intermédio, namoraram e se casaram. O rabino Nochum concedeu a seguinte entrevista ao blog do Zivug:
Zivug: Rabino, como o sr. começou a apresentar os casais?
Rabino Nochum Zajac – Comecei a apresentar casais trabalhando com jovens e com integrantes da comunidade judaica. Vi a importância e a necessidade de fazer isso, fazendo com que o homem ou a mulher conhecessem alguém que fosse da comunidade.
Quantas apresentações calcula ter feito?
Apresentações, que depois de namoro, viraram casamento, mais do que 10, pelo menos! Houve algumas outras apresentações, onde tentamos formar casais, mas que acabaram não indo para frente, não formando pares, nem terminando em casamento.
Poderia nos contar alguma história marcante dessas dezenas de apresentações que o sr já fez?
Houve um casal que apresentei, eles se conheceram na minha casa, durante uma refeição de Shabat. Posteriormente, começaram a namorar e ela foi morar com ele; o relacionamento ficou sério, e depois eles acabaram se tornando sócios em um negócio. Ocorre que eles acabaram brigando por causa disso, e no fim, acabou tudo: o relacionamento, o negócio entre os dois…O que se aprende disso é que não se pode misturar as coisas.
Pode explicar, qual é a importância dos judeus se casarem entre si?
É fundamental que os judeus se casem entre si, formem casais judaicos, para que o judaísmo continue existindo, pela continuidade das famílias judaicas. Vejo muitos casos em que a mãe ou o pai não se converteu conforme as leis da halacha, ou fez isso em processos não oficiais, e há muito sofrimento depois disso.
Shadchan observa sua agenda de telefones: ele tem como função fazer a ponte para o casal se conhecer.
Qual é a função de um shadchan? O que ele faz?
Depende muito de cada caso. Se o homem e a mulher concordarem em se conhecer através de um processo de shiduch, no momento que o rapaz achar interessante conhecer a moça que eu indiquei para ele, ou, então, se ele pergunta se conheço ou tenho contato de determinada menina, pergunto se ela concorda que eu passe seu telefone para esse pretendente.
Caso seja o caso dela não topar sair, então recorremos às redes sociais. Isso ocorreu, por exemplo, com um homem que tinha se casado com alguém de fora da comunidade, mas acabou se separando. Posteriormente, apresentei uma moça para ele e hoje eles estão perto de concretizar o noivado.
Só para esclarecer: o shiduch não é o rabino que decide com quem a pessoa vai se casar: na verdade, o shadchan só aproxima os dois lados. Faz a ponte para eles se conhecerem.
Por que um homem não pode ficar sozinho?
Está escrito na Torá que um homem não deve ficar sozinho. Em geral, a pessoa só entende o significado geral da vida quando se casa, quanto é abençoado e tem filhos, passando a ser menos egoísta e sabendo apreciar o quão saboroso é compartilhar as coisas.
Quais dicas o senhor pode dar aos que estão procurando seu zivug?
Que as pessoas realmente estejam dispostas a encontrar o seu par. Que não entrem nessa procura por pressão dos pais ou da sociedade. No fundo, muitos não querem ou têm medo de assumir um compromisso mais sério. Nós, shadchanim, não somos terapeutas.
Existe idade mínima e idade máxima para se casar, ou seja, para procurar alguém?
Não, para isso, não tem idade: nem mínima, nem máxima!
Alguém que, infelizmente, se divorciou ou então ficou viúvo (a) deve procurar um novo par? É uma mitsvá? Ou isso depende da idade da pessoa?
Como mencionamos, pela Torá, para um homem é bem melhor ele estar casado, ele tem muito mais moral por isso. E, se tem possiblidades, deve ter filhos também, mesmo se já os teve no primeiro casamento. E as mulheres, por sua vez, também desejam sempre estar acompanhadas.
Existe alguma regra sobre quem deve dar o primeiro passo, o homem ou a mulher nessa procura?
Pelo Talmud, é o homem quem procura sua parte perdida. Mas, obviamente, depende muito do caso. Há casos em que a mulher que faz isso ou se está apaixonada.
Quais são as suas dicas para ter um lar harmonioso?
A principal de todas é que o casal deve ser humilde, tanto o homem, como também a sua esposa.
Por favor, mande uma mensagem para quem está à procura do seu Zivug…
Seja uma boa pessoa! Não adianta pedir para ser apresentado (a), para conhecer alguém, se você não está a fim de se doar ao outro (a).
Lisette Nigri Sayeg atua há mais de 34 anos como Shadchanit. Depois de começar nesta função em São Paulo, ela acabou expandindo este trabalho para outros estados brasileiros, chegando até o exterior.
“Fatos marcantes como um nascimento, um Bar ou Bat-Mitzva, e até o casamento dessa nova geração são a coroação do nosso trabalho”, diz ela.
Zivug – Há quantos anos a sra. exerce a função de Shadchanit? A sra. atua em só uma cidade ou em todos os estados brasileiros?
Lisette Nigri Sayeg – Baruch Hashem, são 34 anos de atividade na área de shiduchim. Comecei atuando aqui em São Paulo, e o trabalho foi se estendendo por vários estados brasileiros, e até outros países, onde temos a presença da comunidade judaica, como Paraguai, Argentina, Chile, EUA, Itália e Israel.
Quantos casais a sra. acredita ter formado através das suas apresentações? Quantas apresentações a sra. imagina que já conseguiu fazer?
No começo do meu trabalho nesta área, eu me empolgava com os números. Mas, em certo momento, percebi que o importante não era a contabilidade do que eu já tinha feito, mas quanto trabalho eu ainda tinha para fazer, então, parei de contar. O que ficou para mim são os frutos do meu esforço, fatos marcantes como um nascimento, um bar e bat-mitzvá, e até o casamento dessa nova geração. Sinto que faço parte dessas lindas histórias de vida.
Normalmente, onde e quando ocorrem essas apresentações?
São duas abordagens. Antigamente, eu fazia eventos em minha casa, onde vinham, em média de 150 pessoas. Elas mesmas tinham a oportunidade de encontrarem seus shiduchim. Eu contava com a ajuda de 10 jovens que também procuravam sua cara-metade e se dispunham a me ajudar, trazendo muitas pessoas para o grupo. Desta forma, elas tinham a oportunidade de conhecer mais gente, eventualmente até mesmo encontrar seu shiduch. Esses encontros foram realizados durante 15 anos, mas alguns optaram por não fazer parte destas reuniões; então eu os entrevistava em particular, na minha casa. É esse trabalho que faço até hoje. Ah, também, às vezes, eu programava encontros de alguns jovens no Shabat e chaguim (festas) na minha casa, o que, B`H, deu bons resultados!
Por que “fracassos” ocorrem nesta área, ou seja: qual erro mais comum na tentativa de formação de casais?
Erros e acertos fazem parte desse trabalho. Não temos bola de cristal. É uma inspiração Divina, com a qual temos que ficar sintonizados. E, claro, a experiência ajuda muito! Os fracassos, diversas vezes, são sinais de que os jovens não são “matim”, ou seja, os perfis não combinam. Mas faz parte do nosso trabalho tentar! Acho que o grande lance é se colocar no lugar desses jovens e, ao tentar ajudá-los, ter total comprometimento. Temos que ser sensíveis e considerar o que cada um dos interessados está nos pedindo. Para cada pessoa, existe o que lhe é importante, pensar em cada caso, como se fosse para você ou para os seus filhos.
Como o shadcham pode ajudar nisso?
É nosso dever ouvir com carinho as histórias de vida de cada um, para poder entendê-los e atendê-los com empatia. Temos o direito de propor, mas não de impor uma ideia, não julgar. Procurar entender o passado deles, o presente e o que eles querem para o futuro. É preciso dispor de tempo e lembrar que este é um investimento de grande retorno. O shadcham tem que fazer tudo com sensibilidade, ser otimista e persistente. Trata-se de um trabalho difícil, mas temos sempre que lembrar que não estamos sozinhos, temos um grande sócio, Hashem, que nos guia e nos ilumina no caminho a seguir. E a felicidade que sentimos em fazer essa poderosa mitzvá, só podemos compreender ao fazê-la, de fato. Ver que Hashem, confia em você para ser o seu shaliach: como explicar o sentimento de gratidão por essa grande missão? E, por outro lado, vejo que os jovens precisam compreender que tão importante quanto encontrar as oportunidades é saber que não podem perdê-las. Aconselho que eles fiquem preparados para oportunidades, que, muitas vezes, são um pouco diferentes do que eles sonharam para a sua vida.
Quais dicas a sra. pode passar aos que estão procurando shiduch?
São várias! Comecem sua escolha pela razão e não pela emoção: esse processo ajuda os jovens a direcionarem seus corações para a pessoa certa. Muitas vezes o que parece não é. Lembre-se que algumas coisas podem ser mudadas em uma pessoa, mas algumas características são indispensáveis: caráter, bondade, espiritualidade, empatia, respeito, gentileza, ter objetivos comuns. Valores esses, enfim, que são os tijolos de uma construção sólida – o seu futuro lar! Trabalhem para fazer com que as diferenças possam ser um plus e não um problema. Tentem aproximar as distâncias, não só físicas, como também as emocionais. Em alguns casos, é preciso mudar de lugar (cidade, estado ou mesmo um país); quem muda, muda de sorte! Dividam suas dúvidas com alguém que confiem: alguém que está de fora, às vezes, enxerga melhor a situação.
Há idade mínima ou idade máxima para se casar, ou seja, para procurar alguém?
Conforme a visão da Torá, não é bom que a pessoa fique sozinha. Quanto mais jovem ela se casar, melhor. Acho que o assunto de procurar e encontrar um shiduch, é ligado ao esforço que a pessoa faz e o quanto ela quer, de fato, não exatamente a idade.
Qual a importância de um casamento judaico?
O casamento judaico é um valor fundamental da Torá, daí a sua importância. A Torá, é uma herança que recebemos de Hashem, através de Moshê Rabênu, há 3334 anos. Quando os filhos recebem uma herança de seus pais, eles podem escolher torrar a herança ou multiplicá-la. Aqueles que dão valor ao esforço que os pais fizeram para formar esse patrimônio, vão escolher querer continuar o que um dia seus pais começaram!
Existe alguma regra sobre quem deve dar o primeiro passo, o homem ou a mulher, nessa procura?
Sugiro sempre que o contato comece pelo rapaz.
Quais são as suas dicas para se obter um lar harmonioso depois do casamento?
O primeiro ponto importante é o respeito e a Torá nos fala sobre isso, “Trate o outro como você deseja ser tratado”! Outro valor importante é a cumplicidade – compartilhe e esteja realmente junto na dor, na alegria, no fracasso e no sucesso.
Uma história que ilustra isso: o marido acompanhou sua esposa numa consulta e disse ao médico: “Doutor nosso pé está doendo”. O médico perguntou: mas quem é o paciente? O marido respondeu: “quando o pé dela dói, o meu dói também!” Anulação das vontades, também é algo fundamental! Aprendemos na Torá: “anule a sua vontade perante a de Hashem, para que ele anule à vontade d’Ele perante a sua”, assim também ocorre no casamento. Quando um marido diz para sua esposa “te amo”, essa expressão de amor não é suficiente para manter o casamento harmonioso. O que preserva um relacionamento com harmonia, verdadeiramente, é quando um faz a vontade do outro. Aqui cabe uma história divertida:
Uma vez, um casal se desentendeu e eles foram ao rabino com a seguinte questão: A mulher se queixou que ela pediu ao marido que queria ganhar uma rosa, e ele trouxe 12 rosas! Vemos aqui, que o importante é dar o que o outro quer receber e trabalhar o ego. Os casais têm que ser flexíveis e fazer ajustes: eles são necessários em todos os relacionamentos, além de ceder às exigências. A perfeição não existe no outro e nem dentro de você. Ninguém é completo sozinho, e esse é o sentido do casamento, um completar o outro e juntos crescerem material e espiritualmente. Da mesma forma, ninguém é feliz sozinho. É preciso dar e receber, essa troca que faz o sentido da vida e preenche qualquer vazio.
Quando vai chegar o meu shiduch?
Nem cedo, nem tarde: na hora certa, com a pessoa certa! Porém, não fiquem parados esperando! Façam os seus movimentos e acreditem que o shiduch vai chegar! Invistam, insistam e não desistam!
Gilda Zukin é uma das shadchaniot do Zivug. Ela desempenha importante papel no Rio de Janeiro, onde existe significante presença da comunidade judaica.
Ela afirma que a afinidade física para um casal é muito importante. Mas que não é o fator fundamental, até porque beleza é algo bastante relativo.
“Nesta função que desempenho, ver um casal que ajudei a formar, e que está feliz da vida, é o maior prazer que posso ter”, diz ela.
Zivug – Como é levar uma vida moldada em fundamentos judaicos numa cidade como o Rio de Janeiro, com tantas facilidades “terrestres”?
Gilda Zukin – É difícil…, mas não é impossível! Em qualquer lugar do planeta, o yetzer hará (instinto negativo) sempre vai criar dificuldades. Temos que ter bitachon (confiança/fé) e, com isso, poderemos sempre superar qualquer teste.
O que te motiva a se envolver em tentar ajudar as pessoas a se casarem? Como começou o seu envolvimento nisso?
Sempre gostei de apresentar e conectar as pessoas, muito antes de fazer teshuvá. Tanto para trabalho, para namoro ou mesmo que fosse para dividir um apartamento. Depois de aprender a importância, pela halachá (além da vivência na prática, claro) de ter uma família e consciência do grau de assimilação que enfrentamos hoje, percebi que esse trabalho era bastante importante, fundamental mesmo.
Até que ponto a questão da aparência física da outra pessoa influencia na escolha de um relacionamento e qual é a sua opinião sobre isso?
Atração física é muito importante. Mas de jeito nenhum é o aspecto mais importante, até porque beleza é uma coisa relativa. É bastante comum não acharmos alguém bonito, logo de cara, e após meia hora de conversa já acharmos lindo (a). Assim como, podemos achar alguém bonito (a) e depois de 3 frases, mudar de opinião totalmente. Contudo, para uma relação ser duradoura, é muito mais importante ter respeito e admiração pela outra pessoa. A beleza física é efêmera… já a apreciação pelo caráter, intelecto, pelas atitudes, essa não deve acabar, tem que ficar e até mesmo crescer.
Quais são as principais dificuldades encontradas para se progredir para um relacionamento mais sério e qual seria o seu conselho?
Há vários problemas atualmente: leviandade, rapidez; as pessoas hoje são superficiais. Olham uma foto e já tiram as suas conclusões. Olham a roupa, o carro, o endereço. Fazem julgamentos. Quem realmente quer ter um parceiro, um sócio para a vida, tem que investir mais nessa procura. Tentar olhar muito além de uma foto no Facebook, Instagram, ou qualquer rede social.
É mais fácil apresentar um casal de religiosos ou não-religiosos? Quais são os desafios de ambos os casos?
Nenhum dos dois é fácil. A apresentação entre religiosos tem a facilidade de ambos serem bem objetivos a respeito do que querem. Não tem joguinho de se fazer de desinteressado, de demorar para ligar. Por outro lado, tem menos chance de ter encontros casuais, mais descompromissados, que acabam deixando as pessoas mais relaxadas. Ajudar a formar um casal é muito difícil. Precisamos da ajuda de Hashem para isso. Homem e mulher são bem diferentes!
Quem costuma ter mais exigências, o homem ou a mulher? Um jovem ou uma pessoa de meia-idade?
Mulheres tendem a se preocupar mais com o caráter, os homens com a aparência. Os jovens julgam rápido demais e os de meia idade vêm com uma bagagem já. Como eu disse, não tem facilidade em nenhum dos casos.
Como você aconselharia alguém que teve uma experiência amarga a se dar uma chance de procurar um novo zivug?
Temos experiências amargas todos os dias. Desde uma grosseria inesperada no trânsito até mesmo uma profunda decepção no amor. Essas experiências fazem parte da vida. Mas de jeito nenhum significam uma rua sem saída. Já ajudei vários casais a se encontrarem. Todo mundo merece ser feliz!
De que forma você tem a sensação de que seu trabalho é reconhecido?
Ver um casal que ajudei a formar, e que está feliz da vida, é o maior prazer que posso ter. Mas se esse casal puder conversar com os seus amigos sobre isso, explicar que ser apresentado para alguém não é uma vergonha, pelo contrário, é uma facilidade, com certeza seria uma grande ajuda para o nosso trabalho.
Gostaria de mandar um recado para as pessoas que se inscreveram ou pensam em se inscrever no Zivug?
Sim! Já ajudei a formar casais com 20 e poucos anos e com mais de 70 anos de idade. O ser humano, com poucas exceções, não nasceu para ser ou ficar sozinho. Acredite: tem alguém que vai te complementar. Se dê essa chance, permitindo que te ajudemos!
Nascido em Belém (PA) e emissário do Rebe de Lubavitch há mais de 30 anos, Yossef Benzecry dirige há mais de 18 anos a Congregação Tsémach Tsédec, também conhecida como a “Sinagoga da Pompéia”.
O rabino é um dos coordenadores do Zivug, ao lado de dezenas de colaboradores. “Temos muitos planos para o futuro. O Zivug é um projeto que foi desenvolvido para abrigar pessoas de todas as idades, independente do seu nível de religiosidade”.
Zivug – Qual a importância do projeto Zivug? O que a ferramenta oferece aos seus usuários?
Rabino Yossef Benzecry – O Zivug foi concebido com o objetivo de ser uma poderosa ferramenta para formar casais dentro da comunidade judaica. Esse instrumento pode ser usado tanto por usuários desimpedidos que buscam um (a) parceiro (a), como também por líderes comunitários, que procuram shiduch para um membro de sua instituição. Na verdade, quanto mais gente estiver inscrita e envolvida, maior a probabilidade de conseguirmos formar um casal.
Todos os colaboradores são pessoas dignas e sérias e se dedicam, literalmente, de corpo e alma. Isto tudo, junto com a premissa de cuidar do sigilo das informações pessoais dos candidatos. Também há o fato de oferecermos o serviço aos usuários e dirigentes comunitários de forma totalmente gratuita. Vale ressaltar, ainda, que o projeto é para todas as idades e independe do nível de observância religiosa do (a) candidato (a).
Qual é a sua participação neste projeto? Quanto tempo demorou entre o Zivug ser concebido e estar, de fato, no ar? Qual sua opinião sobre ele?
Minha participação é pequena. Tivemos sim muita “siata dishmaya” (ajuda de H’), que fez com que aparecessem as pessoas certas, no tempo correto, para auxiliarem no projeto. Só para ilustrar com um exemplo, tínhamos percebido que alguns candidatos não tinham fotos muito boas no site. No mesmo instante em que pensamos em contratar um fotógrafo, recebemos um contato de um excelente profissional, que se ofereceu para tirar imagens boas dos candidatos que não tinham enviado fotos de qualidade. E isso, sem cobrar nada, nem deles e nem de nós. E ele ainda fazia a gentileza de ir com a sua equipe até a residência do candidato!
Isto é só uma pequena amostra, sem contar o empenho dos parceiros da equipe administrativa que, sem querer aparecerem, começaram e apoiaram o projeto, além dos shadchanim que se envolveram demais. Ou seja, foi tudo muito rápido!
Primeiro foi criado um grupo de whatsapp. Pouco depois, surgiu a ideia de criar um site, que logo teve uma procura significativa e, com breve tempo de uso, começamos a colher os frutos do trabalho. Resumindo, têm muita gente com mérito nessa história. E isso é o mais legal! Mas entendemos que o aperfeiçoamento deve ser uma busca constante e ainda há bastante o que fazer e melhorar!
Falando nisso, como o projeto Zivug pode ser aperfeiçoado? Há planos do site virar um aplicativo de relacionamento?
Temos várias ideias para isso. Melhorar o site e criar versões em espanhol e inglês, expandindo o Zivug para outros países latino-americanos, ou, então, que tenham alguma afinidade com o Brasil. Usar mais as redes sociais, facilitar o acesso, criar um aplicativo e um sistema de algoritmo com o uso de ferramentas modernas da tecnologia. Apesar de ser de forma tímida ainda, o projeto já obteve, naturalmente, inscritos do exterior, o que nos mostra que podemos ser úteis também para quem mora fora.
Enfim, temos muitos planos para o futuro. Tudo com o grande objetivo de prestar um serviço melhor a todos os pretendentes a formarem um casal.
Quais dicas o senhor pode dar àqueles que estão procurando shiduch?
Ter confiança em D’us e, ao mesmo tempo, fazer sua parte e ter iniciativa e coragem de buscar corretamente, sem esperar que caia de mão beijada dos Céus.
Explique, por favor, qual o conceito e a importância de Taharat Hamishpachá para a felicidade no casamento?
Este é um assunto de suma importância, mas que não dá para ser abordado em poucas palavras. Graças a D’us há muita literatura e pessoas especializadas no assunto, que podem orientar a respeito disso, de maneira mais pessoal.
Quais são suas dicas para alcançar um lar saudável?
Ser parceiro. No Judaísmo isto se aplica não só entre marido e mulher, mas também entre o casal e D’us. Quando este trio está afinado entre si, há harmonia e sucesso. E onde há paz, tem bênçãos!
Como um casal deve lidar com a possível infertilidade de uma das partes?
Essa é uma questão delicada, que precisa de muito apoio entre as partes e de suporte profissional, seja de especialistas em fertilidade ou de terapeutas. Graças a D’us hoje existem vários tratamentos disponíveis para situações que antes pareciam insolúveis.
Quantos casais o senhor acredita ter formado através das suas apresentações?
Fazer apresentações nunca foi minha ocupação principal. Há mais de 30 anos trabalho como rabino de uma comunidade e esta função toma boa parte do meu tempo. Mas, apesar de atualmente a maior parte do meu dia ser dedicada ao Zivug, meu trabalho neste projeto está mais focado em coordenar para que os envolvidos recebam o devido suporte e tenham as ferramentas para que os resultados aconteçam. Entretanto, logicamente, quando posso, faço alguns shiduchim.
Pode revelar quantas pessoas já estão cadastradas no site? Haveria uma meta, algum número, a ser atingido?
Até agora, graças a D’us, já contabilizamos mais de 500 inscrições de homens e mulheres. Mas o principal não é só a quantidade de inscritos, mas o quanto isto está sendo útil para a formação de casais. Com certeza, o número de pretendentes importa, pois quanto mais gente, maior a probabilidade de combinar perfis compatíveis e, em razão disso, além de apresentar pessoas, nós procuramos incentivar o cadastramento de novos usuários para aumentar o banco de dados.
Sobre a segunda pergunta, a respeito de alguma meta, o Talmud já nos diz que “quem tem cem, quer duzentos, etc”. Então, se temos agora quinhentos, nosso objetivo atual é chegar aos mil cadastrados e assim por diante.
Quais os estados que têm mais pessoas inscritas no projeto? E de outros países? Temos inscritos de todos os estados e cidades onde há uma comunidade judaica. O número de candidatos é, de certo modo, proporcional ao tamanho da comunidade em cada local. Certamente que o envolvimento do rabino ou ativista comunitário reflete também no número de inscrições.
Além disso, temos vários pretendentes de shiduch de Israel, Europa e América Latina também.
Qual a importância dos shadchanim para este projeto? Quantos fazem parte hoje? Existe alguma meta de aumento desse número?
Os shadchanim (responsáveis pelas apresentações do futuro casal) são o motor do projeto. É digno de louvor o envolvimento deles e a Ahavat Israel (amor ao próximo) que eles têm em ajudar as pessoas que buscam um (a) companheiro (a). Hoje são cerca de trinta pessoas envolvidas diretamente e que dedicam, voluntariamente, dezenas de horas do seu precioso tempo para ajudar nesta tarefa, que certamente podemos falar que é sagrada. Todos aqueles comprometidos em ajudar e que levam jeito para a coisa podem colaborar. Nosso trabalho é fornecer as ferramentas para isso.
O slogan do Zivug, “parceria para a vida”, teve inspiração no que?
O relacionamento entre um casal tem que ter as premissas de um (a) se tornar parceiro (a) do (a) outro (a) e de que a união irá valer para toda a vida. A missão do projeto é proporcionar que isto se torne uma realidade.
Qual é a importância de um casamento judaico?
Como descrevi no nosso site, ele é tão importante, que através dele, D’us perdoa e anula todas as falhas passadas, fazendo com que ambos, marido e mulher, comecem uma vida a dois com a ‘ficha’ totalmente limpa. Além disso, o primeiro casal foi apresentado e formado pelo próprio Criador e o Talmud nos relata que esta tarefa de formar casais é a que o Todo Poderoso se ocupa após ter criado o universo.
Fale, por favor, sobre o trabalho voluntário que é feito dentro desse projeto.
Isso é algo fantástico! É impressionante como nossa coletividade está engajada e quer colaborar dentro daquilo que é possível oferecer!
Amor é aquilo que você sente quando encontra a pessoa certa? É um sentimento que você desperta? Já está dentro de uma pessoa e não necessariamente na outra?
Essa é uma pergunta muito filosófica e abrangente. Porém, na prática, é muito mais simples do que parece.
No geral, as pessoas acreditam que amor é uma sensação. Algo que pode estar baseado em atração física, emocional, empatia, que surge magicamente, espontaneamente.
Mas se fosse isso, esse sentimento poderia desaparecer, com a mesma facilidade que surgiu.
Acabou a atração, desapareceu o amor. Não há empatia no que se viu ou ouviu, o amor não está mais ali.
Infelizmente essa definição equivocada do amor, mostra como muitos relacionamentos são descartáveis.
Então, o que é o verdadeiro amor?
Podemos dizer que o amor sólido, construído ao longo dos anos, está ligado diretamente ao conceito de bondade.
Se você consegue identificar as qualidades de uma pessoa, mais do que seus defeitos, ou seja, se você a enxerga “com bons olhos” e julga suas ações para o bem, certamente você amará essa pessoa.
Ou seja, a bondade é verdadeiramente um alicerce para o amor.
Alguns dos sinônimos para bondade: altruísmo, benevolência, amabilidade.
Embora a maioria das pessoas acredite que o amor leva a doar, a verdade é exatamente o oposto: doar leva ao amor.
Quando, de fato, estamos empenhados em dar e não receber, percebemos que somos realmente capazes de amar.
Quanto mais você dá, mais você ama. É por isso que no geral os pais amam os filhos mais do que eles os amam.
Em contrapartida, quando sentimos que somos amados, existe a tendência de ter este sentimento dentro de nós.
Como isso funciona? Há uma percepção extra-sensorial no coração que consegue ler os sentimentos no coração de outra pessoa?
Nossos corações captam pistas em nossos sentidos
Tudo o que vemos, ouvimos, provamos, tocamos ou cheiramos, na realidade, nos ensina sobre o nosso universo.
Nossos órgãos sensoriais enviam mensagens ao nosso cérebro; ele interpreta os dados e envia um “relatório” ao nosso coração.
Como está escrito e explicam nossos sábios, há um “efeito espelho”.
Assim como na água límpida, o rosto é refletido, e há um efeito espelho, também no coração, essa questão se aplica de pessoa para pessoa.
Existe um princípio básico, natural e espontâneo do ser humano. Uma lei de reciprocidade em termos de sentimento. Aquilo que expressamos é aquilo que receberemos de volta.
Isso deve ser interpretado como um fenômeno instintivo e automático.
Quando alguém se coloca diante do espelho é automático que haja o reflexo.
Assim, quando o coração de um indivíduo, ama outro individuo devotadamente, então esse amor desperta o amor no coração do seu próximo também.
Isso transborda naturalmente e cria uma reação de reciprocidade: o resultado é que os dois se amam e são devotados mutuamente.
Existe esse efeito bumerangue que tem muito a nos ensinar em todas as áreas da vida, em termos de relacionamento humano: na união conjugal, ou entre pais e filhos, ou nas relações sociais e comerciais.
Aquilo que você manda e expressa é aquilo que o outro lhe devolve. Isto ocorre mesmo sem manifestar, expressar e declarar este amor.
E, assim mesmo, o outro sente a necessidade de retribuir-lhe. E isso é revelado pelas ações práticas!
Se observamos um sorriso amoroso, escutamos palavras de carinho, nosso intelecto processa isso e conclui: “estou mesmo sendo amado”.
Em resumo, quando isso ocorre, existem provas palpáveis.
Não se trata de um pensamento ou sentimento abstrato, ele é concreto e evidenciado. Simplesmente, quando somos tratados com amor, não somente nosso coração sente isso, mas também nosso intelecto.
Como saber se amamos alguém?
Casal em sua cerimônia de casamento: como saber se amamos alguém?
Simplesmente, a resposta é direta. Quando sentimos a necessidade de ter um comportamos amoroso com alguém, significa que, sim, amamos essa pessoa.
A palavra em hebraico para amor é “ahavá”. Ela nos mostra essa verdadeira definição de amor, já que ahavá é edificada sobre consoantes de raiz que significam “dar”.
Para que o amor seja verdadeiro, ele deve ser categórico, com uma ação ligada ao conceito de bondade.
Se você ama, então deve demonstrar isso.
Da mesma maneira, se você é amado, isso será claramente evidenciado, reconhecido, pelo modo como você é tratado.
D’us nos ensina como amar
Como está escrito na declaração do Shemá, que recitamos todos os dias, D’us nos ordena: “e você amará o Senhor teu D’us”.
Este preceito nos leva a fazer a velha pergunta: “Como podemos ser comandados e ter um sentimento?” Ou você sente ou não, correto?
Uma resposta que é oferecida pela nossa tradição, afirma que não estamos sendo ordenados a interiorizar um sentimento no sentido abstrato.
Ao contrário, o comando Divino é para interagirmos com amor!
Assim sendo, a frase “e você deve amar”, na verdade, significa: “vocês devem realizar atos de amor”.
Este é o verdadeiro teste: ação, feitos e desempenho.
Os sentimentos, em diversas ocasiões, podem ser ilusórios. Às vezes, o que percebemos como amor pode, de fato, ser outra emoção, outro sentimento, na verdade.
Contudo, as ações não devem ser confundidas.
Desta forma, ao invés de perguntar, “O que é o amor?”, temos que questionar, “realizo atos de amor por meu amado?” E, ainda: “o meu amado faz atos de amor por mim?”
Casamento judaico se inicia com a Ketubá
O casamento judaico se inicia com a assinatura da Ketubá (documento legal do casamento). Nela, o noivo promete ser um marido bom e fiel.
O primeiro parágrafo logo traz a declaração de que o cônjuge se compromete com sua nova esposa, dizendo: “Eu trabalharei para você, a respeitarei e a sustentarei.”
Uma palavra essencial que pode parecer que está faltando neste importante documento é o “amor”.
Muitos poderiam dizer que um matrimônio bem-sucedido é aquele onde marido e mulher se amam profundamente.
Amor é o que os une e cria laços profundos e harmoniosos.
Sendo assim, por que esse fundamental conceito não é citado diretamente no documento?
Para que um relacionamento se desenvolva e evolua, temos que aprender a respeitar, valorizar e manter a individualidade da outra pessoa, que pensa de modo diferenciado, sente de forma divergente, e vê o mundo de uma forma diferente da nossa.
Amor deve ser baseado em alicerces de profundo respeito
Lamentavelmente, não é incomum ver relacionamentos que se iniciam com um intenso romance e logo se “decompõe” de modo rápido, assim que uma pessoa repara que o outro não é o ser humano perfeito, como ela idealizava inicialmente.
Para o amor ser correto, verdadeiro, e ter longa duração, deve ser baseado em alicerces de profundo respeito e expresso através de atos.
Apenas quando respeitamos de forma genuína a individualidade da outra pessoa, é que podemos realmente amá-la.
A Ketubá nada mais é do que o alicerce do casamento. “Eu trabalharei para você, a respeitarei e a sustentarei.”, nada mais são do que a essência do amor que está em demonstrar, através das ações e o respeito.
A meta dessa união é o amor e a conexão.
Para que o verdadeiro amor seja alcançado, o respeito e as ações têm que vir em primeiro lugar.
Quando a base é construída com respeito mútuo, saudável, lembrando o efeito espelho em demonstrar e expressar o sentimento, então o amor torna-se sólido e com grande possibilidade de tornar-se duradouro.
É chegada a hora de um dia tão sonhado! Pela noiva, pelo noivo, familiares, amigos. São tantas pessoas envolvidas!
Porém para o judaísmo, além de um dia de festa e muita alegria, esse é um dia voltado à santidade e a conexão com D-us.
Os noivos jejuam por longas horas, dedicam-se às orações, à leitura do livro de Salmos (Tehilim), praticam neste dia atos de bondade, como a tsedaká e fazem uma intensa reflexão espiritual.
Diz a nossa tradição que esse dia é tão importante que o novo casal é perdoado de forma total e absoluta por D´us, por todas as transgressões que foram cometidas anteriormente, sendo considerado um Yom Kipur particular para ambos.
Assim, neste dia, noivo e noiva entram na chupá (pálio nupcial) com alto nível de pureza, para que recomecem a vida conjunta como uma unidade.
Diversos costumes são realizados neste dia tão elevado e um deles é o mergulho na micvê, o banho ritual de corpo e alma.
Antes da sua tão sonhada cerimônia, a noiva tem que imergir nas águas do micvê para que realize de forma plena sua purificação e ascensão de nível espiritual.
Da mesma forma, também para o homem, é recomendável que ele vá ao micvê e se santifique.
A imersão do futuro casal na micvê tem o poder de elevar um ato físico, conectando-o com a santidade Divina.
Como consequência, isso atrai para o marido e a mulher as bênçãos Divinas de paz e harmonia, alicerces fundamentais para um matrimônio bem-sucedido.
Além disso, é costume que os noivos estudem de forma detalhada as leis de pureza familiar com orientadores que dominem totalmente o assunto.
O jejum no dia do casamento, o kítel e o talit
Conforme já foi dito, uma tradição antiga aponta que noiva e noivo devem jejuar no dia de seu casamento. Isso deve ter início a partir do nascer do sol até acabar a cerimônia, realizada em uma chupá, ao ar livre.
O desjejum é feito a sós pelo casal após a cerimônia, em uma sala reservada, onde eles devem ter total privacidade.
Antes da chupá, e durante toda a cerimônia, o noivo deve usar um kítel branco, traje normalmente utilizado em Yom Kipur, sob seu terno.
O kítel lembra uma mortalha e mesmo em um dia tão sonhado e iluminado, o noivo também tem que ter em mente que ele é um mortal, mesmo que esteja em um estado de grande felicidade.
Abordar o dia da morte representa para o casal que o seu matrimônio deve durar até o final de suas vidas.
Outra razão para se vestir o kítel branco é para mostrar a pureza do casal, pelo fato de estarem recebendo o benefício de ficarem com a “ficha” totalmente limpa de seus deslizes do passado para começarem a vida a dois completamente zerados de amarras.
Outro costume muito tradicional é que a noiva presenteie seu futuro marido com um talit. E que ele dê a ela um bonito par de castiçais.
Vestido da noiva, contrato de noivado e de casamento
Noiva durante cerimônia; preparação para o sonhado dia: costume é usar vestido claro
Nossa história afirma que o Santíssimo, Ele mesmo, foi responsável por enfeitar Eva (Chava), a primeira mulher da história, para a sua cerimônia com Adão (Adam).
Por este motivo, a noiva se prepara o dia inteiro e se enfeita para o tão sonhado e planejado dia.
É costume que ela vista um vestido com cor clara, já que isso é um indício de pureza.
Faz parte da nossa tradição, que, antes da cerimônia do casamento, os contratos, colocados em um texto padrão, são elaborados em documento escrito, que é assinado por duas testemunhas e, claro, aceitos pelos noivos.
As testemunhas têm que ser homens adultos, cumpridores de mitsvot, sem serem parentes dos noivos e nem também entre si.
O primeiro contrato, o do noivado, pode ser realizado com antecedência, mas há uma praxe de celebrá-lo antes da chupá.
Ele é lido e assinado na “Cabalat Panim” (Saudação aos Noivos e aos Convidados), antes de ser feita a cerimônia de casamento.
Depois de realizada a leitura do documento, as mães dos noivos quebram, em ato simbólico, um prato de porcelana.
Este gesto é feito para mostrar que, assim como a porcelana não pode ser remontada com perfeição, as partes envolvidas no contrato de noivado têm que cuidar de não dar para trás e quebrá-lo.
Um contrato de matrimônio detalha as obrigações do marido com sua esposa, como sustentá-la com casa, alimento e roupa, fora os seus direitos conjugais.
A assinatura da Ketubá, o contrato judaico de casamento, é a prova real de que os noivos não vêem o casamento somente como uma união física e emocional, mas também como uma obrigação legal e moral.
Assim como no noivado, dois homens, cumpridores das mitsvot, servem de testemunhas na assinatura da Ketubá, proporcionando que tudo seja realizado conforme a prática tradicional judaica.
Cabalat Panim: a cerimônia de saudação aos noivos; a recepção da noiva e do noivo
A Cabalat Panim é onde começa a celebração do casamento judaico. Trata-se de uma recepção onde o noivo e a noiva são cortejados por familiares e amigos.
Ambos ficam em lugares distintos e as recepções acontecem separadamente, pois o novo casal formado não pode se ver desde uma semana antes do casamento.
Do mesmo modo, diz o mandamento que se deve honrar e louvar a noiva, oferecer tudo o que ela precisa e, essencialmente, alegrá-la nesta importante data.
O Talmud determina que seja disponibilizado um “trono de noiva”. Ela, nesse dia, é chamada de rainha e o noivo, de rei.
Em algumas comunidades, o noivo costuma declamar um Maamar (discurso chassídico de Torá) sobre o significado espiritual do casamento.
Com isto, ele demonstra que, mesmo no momento mais feliz e mais marcante da sua vida, não esquece de D’us e da Torá.
Finalmente, a última fase de preparação ao casamento ocorre quando o noivo, junto com seus pais e alguns dos convidados, dirige-se ao local onde a noiva está recebendo os participantes.
Lá, ele coloca o véu sobre a cabeça dela, que, neste momento, está ladeada pelas duas mães.
Neste instante, é costume os pais abençoarem a noiva, colocando suas mãos por cima da sua cabeça, e proferindo a bênção: “Que D’us te faça como as Matriarcas Sara, Rivca, Rachel e Lea”.
O gesto de se cobrir o rosto da noiva nos faz rememorar a nossa matriarca, Rivca, em seu recato, cobrindo seu rosto com um véu em seu primeiro encontro com Yitschac.
Imitando o gesto desta matriarca, a noiva espera que ela também seja merecedora das bênçãos Divinas em seu casamento.
Outro motivo pelo qual o noivo cobre o rosto da noiva é que a Presença Divina irradia do rosto da noiva neste momento, e por isto deve ser encoberto.
O casamento, as velas e o cortejo
No seu caminho em direção a chupá, o noivo, rodeado por seus acompanhantes, faz uma parada rápida em um local onde irá vestir o kítel, e todos prosseguem até a chupá, seguido pela noiva, que estará acompanhada pelas duas mães e pelas mulheres que estão no casamento.
Os pais que acompanham tanto o noivo, como também a noiva até a chupá seguram velas acesas. Assim como na entrega da Torá, D’us foi acompanhado pelas duas Tábuas da Lei e por anjos, os noivos são rodeados por seus pais.
Os acompanhantes que levam as velas ficavam à direita e à esquerda dos noivos.
As velas representam, entre outros símbolos, as almas dos entes queridos que partiram e que se unem ao casal nesta noite.
Na sequência, o noivo chega primeiro à chupá: o motivo disso é que um casamento só pode ser alinhado totalmente com o consentimento da mulher.
Por isto, ela vai à chupá para o noivo, ressaltando que deseja firmemente este casamento.
Diz a tradição, que os noivos não devem levar nada nos bolsos, muito menos usem joias durante a cerimônia da chupá.
Isso ocorre para mostrar que cada um é aceito pelo outro por aquilo que é e não por conta das suas riquezas.
Da mesma forma, de modo semelhante, pode-se comparar o noivo ao Sumo Sacerdote, em Yom Kipur.
No Templo, o Cohen Gadol vestia uma roupa branca simples, sem bolsos.
Da mesma maneira que os levitas conduziam os serviços religiosos no Templo com instrumentos musicais, de forma parecida, os noivos têm a importante companhia da música em sua chupá.
Cerimônia a céu aberto: a chupá
Chupa em cerimônia de casamento: oficialização do matrimônio tem que ser feita a céu aberto
A oficialização do matrimônio tem que ser feita, de preferência, a céu aberto, recordando a bênção Divina para que a semente de Avraham fosse igualmente numerosa como as estrelas.
A chupá nos traz a mesma representação de uma casa, onde, brevemente, o novo casal irá determinar a sua união.
Da mesma forma, a chupá significa a vontade de se possuir um lar aberto a todos e acolhedor, tal qual Avraham Avinu fazia com sua casa no deserto.
Igualmente, a chupá ao “abraçar” os noivos simboliza a bênção Divina em resposta a busca de ambos.
Certamente, esta brachá irá auxiliar na consolidação dos seus desejos, de obter um lar baseado sobre a fundação da Torá e de mitsvot.
Ter uma chupá acima da cabeça dos noivos significa que ambas as almas estavam inicialmente interligadas e unidas. O seu encontro, a sua união, o casamento dá forma realmente a reunificação dessas almas.
Também, a chupá nos remete a revelação no Monte Sinai, onde Am Israel foi consagrado a D’us, quando foi erguida a montanha acima de suas cabeças, assim como ocorre com uma chupá.
Ela simboliza ainda o conceito da harmonia conjugal, que pode ser atingida somente com amor e respeito mútuo.
O respeito e, da mesma forma, a consideração nos mínimos detalhes são indicadores de um relacionamento onde realmente prevalece o afeto, tornando-o absolutamente saudável.
As sete voltas no noivo
Assim que chegam na chupá, a noiva e os pais circundam o noivo sete vezes.
Trata-se de um costume de origem cabalística, propagado entre as comunidades judaicas ashkenazitas.
As sete voltas fazem alusão aos sete dias da Criação.
Contudo, há outros significados das sete voltas.
Rememora as sete expressões de noivado entre D’us, o noivo, e Israel, a noiva.
Relembra, ainda, as sete vezes que enrolamos as tiras dos tefilin no braço do homem.
Do mesmo modo que o homem se liga em amor a D’us, igualmente, ele é “amarrado” com sua esposa.
Ao terminar este ritual, a futura esposa permanece ao lado direito do marido, em uma prova de que vai estar sempre junto dele para enfrentar qualquer situação e oferecer todo o tipo de ajuda.
Uma vez que o casamento é uma mitsvá, preceito Divino, uma bênção é realizada antes que a cerimônia seja oficializada, em agradecimento pela santificação de D’us a essa união.
O matrimônio judaico torna-se sagrado por todo o significado que cerca a cerimônia em todos os detalhes, por meio de “kedushá”, consagração, e todas as bases que irão constituir o novo lar e o relacionamento do casal.
Colocação da aliança: o ato central da união
Noivo coloca aliança no dedo de futura esposa: ato simboliza a união entre o casal
O momento em que o noivo coloca a aliança no dedo da sua futura esposa simboliza um dos atos mais importantes do casamento.
Neste instante, o casal, conforme, as leis judaicas, é considerado casado.
A aliança representa o elo em uma corrente. Do mesmo modo, um círculo sem fim, que simboliza o ciclo da vida.
O simples ato de dar o anel também significa a transferência de poder e de autoridade.
O marido, de modo simbólico, outorga à sua esposa a soberania sobre sua casa e tudo o que está dentro dela.
A partir deste momento, todo o conjunto na vida do casal será repartido, com o anel que foi concedido na cerimônia de casamento simbolizando a proteção que o marido fornece à sua esposa: assim como o anel envolve o dedo, também a proteção irá envolver sua mulher.
O anel também tem o significado de confiança, lealdade que englobará o casal pelo resto de suas vidas e um círculo inquebrável e ilimitado entre marido e mulher. A tradição é que a aliança seja redonda, de ouro sólido, simples e totalmente lisa.
O anel não deve conter pedras preciosas, nenhum desenho ou gravação, nem mesmo por dentro.
O anel tem que ser colocado no dedo indicador da mão mais forte da esposa.
Antes de fazer esse gesto, o noivo diz o esta frase:
“Com este anel, tu és consagrada a mim, conforme a lei de Moshe e de Israel”.
Na sequência, são as testemunhas que falam: “Está casada”.
A ketubá é lida logo em seguida, em voz alta, para todos escutarem e logo depois são recitadas as Sheva Brachot (Sete Bênçãos) ao novo casal.
O noivo quebra o copo
A cerimônia de matrimônio se encerra com o noivo quebrando o copo de vidro.
Com este gesto, todos são lembrados que, mesmo no dia de nossa maior alegria, nós nos recordamos da destruição do Templo Sagrado de Jerusalém e desejamos a sua reconstrução.
Esse ato também nos rememora sobre as primeiras Tábuas da Lei, que foram quebradas por Moshe depois da união celebrada entre D’us e Am Israel.
Da mesma maneira, ao quebrar o copo, o noivo (chatan), nos lembra que somos simples mortais e que temos a obrigação de nos casarmos e nos multiplicarmos.
E, ainda, que com o nosso sincero arrependimento, somos perdoados.
Depois da quebra do copo, é encerrado o clima solene da cerimônia e substituído por danças, alegria e muita música.
Cabe aos convidados a tarefa de alegrar os noivos, dando, de forma expressa, apoio ao casal que acabou de se formar.