Lisette Nigri Sayeg atua há mais de 34 anos como Shadchanit. Depois de começar nesta função em São Paulo, ela acabou expandindo este trabalho para outros estados brasileiros, chegando até o exterior.

“Fatos marcantes como um nascimento, um Bar ou Bat-Mitzva, e até o casamento dessa nova geração são a coroação do nosso trabalho”, diz ela.

Zivug – Há quantos anos a sra. exerce a função de Shadchanit? A sra. atua em só uma cidade ou em todos os estados brasileiros?

Lisette Nigri Sayeg – Baruch Hashem, são 34 anos de atividade na área de shiduchim. Comecei atuando aqui em São Paulo, e o trabalho foi se estendendo por vários estados brasileiros, e até outros países, onde temos a presença da comunidade judaica, como Paraguai, Argentina, Chile, EUA, Itália e Israel.

Quantos casais a sra. acredita ter formado através das suas apresentações? Quantas apresentações a sra. imagina que já conseguiu fazer?

No começo do meu trabalho nesta área, eu me empolgava com os números. Mas, em certo momento, percebi que o importante não era a contabilidade do que eu já tinha feito, mas quanto trabalho eu ainda tinha para fazer, então, parei de contar. O que ficou para mim são os frutos do meu esforço, fatos marcantes como um nascimento, um bar e bat-mitzvá, e até o casamento dessa nova geração. Sinto que faço parte dessas lindas histórias de vida.

Normalmente, onde e quando ocorrem essas apresentações?

São duas abordagens. Antigamente, eu fazia eventos em minha casa, onde vinham, em média de 150 pessoas. Elas mesmas tinham a oportunidade de encontrarem seus shiduchim. Eu contava com a ajuda de 10 jovens que também procuravam sua cara-metade e se dispunham a me ajudar, trazendo muitas pessoas para o grupo. Desta forma, elas tinham a oportunidade de conhecer mais gente, eventualmente até mesmo encontrar seu shiduch. Esses encontros foram realizados durante 15 anos, mas alguns optaram por não fazer parte destas reuniões; então eu os entrevistava em particular, na minha casa. É esse trabalho que faço até hoje. Ah, também, às vezes, eu programava encontros de alguns jovens no Shabat e chaguim (festas) na minha casa, o que, B`H, deu bons resultados!

Por que “fracassos” ocorrem nesta área, ou seja: qual erro mais comum na tentativa de formação de casais?

Erros e acertos fazem parte desse trabalho. Não temos bola de cristal. É uma inspiração Divina, com a qual temos que ficar sintonizados. E, claro, a experiência ajuda muito! Os fracassos, diversas vezes, são sinais de que os jovens não são “matim”, ou seja, os perfis não combinam. Mas faz parte do nosso trabalho tentar! Acho que o grande lance é se colocar no lugar desses jovens e, ao tentar ajudá-los, ter total comprometimento. Temos que ser sensíveis e considerar o que cada um dos interessados está nos pedindo. Para cada pessoa, existe o que lhe é importante, pensar em cada caso, como se fosse para você ou para os seus filhos.

Como o shadcham pode ajudar nisso?

É nosso dever ouvir com carinho as histórias de vida de cada um, para poder entendê-los e atendê-los com empatia. Temos o direito de propor, mas não de impor uma ideia, não julgar. Procurar entender o passado deles, o presente e o que eles querem para o futuro. É preciso dispor de tempo e lembrar que este é um investimento de grande retorno. O shadcham tem que fazer tudo com sensibilidade, ser otimista e persistente. Trata-se de um trabalho difícil, mas temos sempre que lembrar que não estamos sozinhos, temos um grande sócio, Hashem, que nos guia e nos ilumina no caminho a seguir. E a felicidade que sentimos em fazer essa poderosa mitzvá, só podemos compreender ao fazê-la, de fato. Ver que Hashem, confia em você para ser o seu shaliach: como explicar o sentimento de gratidão por essa grande missão? E, por outro lado, vejo que os jovens precisam compreender que tão importante quanto encontrar as oportunidades é saber que não podem perdê-las. Aconselho que eles fiquem preparados para oportunidades, que, muitas vezes, são um pouco diferentes do que eles sonharam para a sua vida.

Quais dicas a sra. pode passar aos que estão procurando shiduch?

São várias! Comecem sua escolha pela razão e não pela emoção: esse processo ajuda os jovens a direcionarem seus corações para a pessoa certa. Muitas vezes o que parece não é. Lembre-se que algumas coisas podem ser mudadas em uma pessoa, mas algumas características são indispensáveis: caráter, bondade, espiritualidade, empatia, respeito, gentileza, ter objetivos comuns. Valores esses, enfim, que são os tijolos de uma construção sólida – o seu futuro lar! Trabalhem para fazer com que as diferenças possam ser um plus e não um problema. Tentem aproximar as distâncias, não só físicas, como também as emocionais. Em alguns casos, é preciso mudar de lugar (cidade, estado ou mesmo um país); quem muda, muda de sorte! Dividam suas dúvidas com alguém que confiem: alguém que está de fora, às vezes, enxerga melhor a situação.

Há idade mínima ou idade máxima para se casar, ou seja, para procurar alguém?

Conforme a visão da Torá, não é bom que a pessoa fique sozinha. Quanto mais jovem ela se casar, melhor. Acho que o assunto de procurar e encontrar um shiduch, é ligado ao esforço que a pessoa faz e o quanto ela quer, de fato, não exatamente a idade.

Qual a importância de um casamento judaico?

O casamento judaico é um valor fundamental da Torá, daí a sua importância. A Torá, é uma herança que recebemos de Hashem, através de Moshê Rabênu, há 3334 anos. Quando os filhos recebem uma herança de seus pais, eles podem escolher torrar a herança ou multiplicá-la. Aqueles que dão valor ao esforço que os pais fizeram para formar esse patrimônio, vão escolher querer continuar o que um dia seus pais começaram!

Existe alguma regra sobre quem deve dar o primeiro passo, o homem ou a mulher, nessa procura?

Sugiro sempre que o contato comece pelo rapaz.

Quais são as suas dicas para se obter um lar harmonioso depois do casamento?

O primeiro ponto importante é o respeito e a Torá nos fala sobre isso, “Trate o outro como você deseja ser tratado”! Outro valor importante é a cumplicidade – compartilhe e esteja realmente junto na dor, na alegria, no fracasso e no sucesso.

Uma história que ilustra isso: o marido acompanhou sua esposa numa consulta e disse ao médico: “Doutor nosso pé está doendo”.  O médico perguntou: mas quem é o paciente? O marido respondeu: “quando o pé dela dói, o meu dói também!” Anulação das vontades, também é algo fundamental! Aprendemos na Torá: “anule a sua vontade perante a de Hashem, para que ele anule à vontade d’Ele perante a sua”, assim também ocorre no casamento. Quando um marido diz para sua esposa “te amo”, essa expressão de amor não é suficiente para manter o casamento harmonioso. O que preserva um relacionamento com harmonia, verdadeiramente, é quando um faz a vontade do outro. Aqui cabe uma história divertida:

Uma vez, um casal se desentendeu e eles foram ao rabino com a seguinte questão:  A mulher se queixou que ela pediu ao marido que queria ganhar uma rosa, e ele trouxe 12 rosas! Vemos aqui, que o importante é dar o que o outro quer receber e trabalhar o ego. Os casais têm que ser flexíveis e fazer ajustes: eles são necessários em todos os relacionamentos, além de ceder às exigências. A perfeição não existe no outro e nem dentro de você. Ninguém é completo sozinho, e esse é o sentido do casamento, um completar o outro e juntos crescerem material e espiritualmente. Da mesma forma, ninguém é feliz sozinho. É preciso dar e receber, essa troca que faz o sentido da vida e preenche qualquer vazio.

Quando vai chegar o meu shiduch?

Nem cedo, nem tarde: na hora certa, com a pessoa certa! Porém, não fiquem parados esperando! Façam os seus movimentos e acreditem que o shiduch vai chegar! Invistam, insistam e não desistam!

Zivug – Parceria para a vida
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